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sábado, 14 de março de 2015

O SOFRIMENTO DE JÓ

Por Alex Sandro


Jó é um dos homens mais  impressionantes da Bíblia. A soma das suas virtudes é tão grande que poucos  poderiam dizer que alcançaram, em suas vidas, o mesmo nível espiritual e moral que ele alcançou.
 
A seu favor, Jó tinha o testemunho do  próprio Deus, que se orgulhava de apontar o patriarca como um homem íntegro e  reto, temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1.1,8; 2.3). Além das virtudes apontadas pelo Senhor, Jó também demonstra ser possuidor do que eu  chamo de virtudes do intercessor (Jó 1.5), ele orava pelo pecado alheio. Outra  marca moral deste homem é a sua grande e sincera humildade aliada a uma imensurável resiliência emocional, psicológica e espiritual. Por muito menos do  que Jó passou, diversos homens já amaldiçoaram a Deus e outros tantos, como que
atendendo a sugestão da esposa dele (Jó 2.9), tiraram suas próprias vidas. Mas, diante da dor, Jó agiu diferente. Em meio ao caos que alcançou sua história, Jó declarou que concordava em aceitar o bem e o “mal” de Deus da mesma maneira.

Jó é tão virtuoso que até nos irrita com sua paciência. A ideia que ele nos passa através de sua vida e testemunho não agrada ao homem do presente século. Todos nós preferimos uma vida de mar-de-rosas com Deus, aos problemas. Jó é tão extraordinário que para encontrar defeito nele precisei fazer força. Só existem dois senões em Jó (ainda bem, senão pensaríamos que ele era o próprio Cristo imaculado).
 
Primeiro, apesar de dizer que aceitava o “mal” de Deus (Jó 2.10), perder seus bens e status social era o que ele mais temia (Jó 3.25) e por isso lutava para “não dar motivos ao azar” (Jó 1.5). Ele cria que por suas boas obras alcançaria a graça de Deus (Ef 2.9). Segundo, apesar de ser um homem tão
especial, ele exerceu pouca influência moral e espiritual sobre os seus filhos (Pv 22.6) e não conseguiu transmitir para eles a fé que possuía. Acho que todos concordariam que um homem tão santo como Jó merecia filhos melhores. Mas, não é bem assim que as coisas funcionam. A questão não é merecer ou desmerecer. Vamos  corrigir esse pensamento. Homens extraordinários devem formar e educar seus filhos com mais excelência do que simplesmente ficar apagando os “incêndios”
que eles fazem (Jó 1.4, 5 e 13). Jó se esqueceu de observar esse lado da vida e por isso seus filhos foram tão fracos.
 
Não passa despercebido aos nossos olhos  o fato de Deus testemunhar sobre Jó, mas nada dizer sobre o caráter dos seus  filhos. Também é bom notar que Jó é um homem imune ao diabo, diga-se de  passagem, tão imune que o diabo nem fazia questão de notá-lo. Se Deus não  falasse de Jó o diabo não tocaria em seu nome, muito menos em sua vida. Já os  filhos dele não gozavam dessa mesma imunidade. Neles o diabo toca e até mata  sem nenhuma cerimônia. A única proteção que eles tinham contra satanás vinha  das orações de seu pai. Uma lição que tiramos daqui é que as orações dos nossos
intercessores não nos protegerão para sempre. Por mais intercessores que  tenhamos a nossa disposição, é imperativo que desenvolvamos a nossa própria fé  e comunhão com Deus. Nunca dependa de outra pessoa para servir ao Senhor.

Os filhos de Jó foram o primeiro alvo  que o diabo atacou quando teve a chance (Jó 1.13-15); eles não foram páreos  para satanás; a brecha espiritual encontrada neles não era pequena. Eles tinham  a mania de fazer festas regadas a vinho com o dinheiro do próprio pai, sob a  proteção intercessora de Jó, mas sem a sua presença. Suas festas eram para  todos, menos para Jó. Parece que eles não queriam a figura de homens íntegros em suas festas. Jó não era convidado para as festas dos próprios filhos; não
tinha espaço nelas (Jó 1.4 e 13). É muito interessante observar isso. Queremos  a intercessão dos intercessores, mas queremo-los bem longe quando planejamos  pecar. Quando queremos pecar, os intercessores não servem como amigos e  companhia; nesses momentos preferimos a “proteção” do erro alheio e do pecado  coletivo, porque num mar de lama, a sujeira da nossa roupa não se destaca. Tudo  parece legal quando pecamos com a galera. O problema é que tal comportamento  cauteriza nossas consciências e passamos a acreditar que nunca seremos  abalados; ledo engano. A segunda lição que tiramos dessa história é que  cada um dará conta de si a Deus e, o que é pior o pecado achará o pecador (Nm  32.23).
 
A terceira lição que tiramos dessa história é que ter uma vida íntegra não nos imuniza dos problemas. Sob a  permissão de Deus, problemas podem surgir como instrumentos de aperfeiçoamento  dos santos. Nestes casos, mesmo no ápice da dor, ainda se poderá declarar com  ousadia: Sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra...  e ainda em minha carne verei a Deus... os meus olhos... o contemplarão (Jó  19.25-27 – trechos). O mesmo não se pode dizer dos primeiros filhos de Jó, quando a crise chegou a suas vidas, não lhes deu uma segunda chance; na crise  eles foram eliminados (Pv 29.1).

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