Postado por Alex Sandro VOLTAR
INTRODUÇÃO
- No encerramento
do estudo sobre os dez mandamentos, veremos o papel da lei de
Deus na Igreja.
Cumprimos a lei, porque Cristo vive em nós.
O enfoque do presente capítulo é a compreensão da lei de Moisés e a
sua relação com o evangelho. Trata- -se de um tema de grande complexidade.
Disse Lutero: "Quem sabe distinguir corretamente o evangelho da lei deve
agradecer a Deus e pode estar certo de que é um teólogo". Os três
principais reformadores do século 16 debateram o assunto. Depois dessa série de
estudos sobre o Decálogo e cada um dos seus preceitos, resta responder a duas
questões: se a moral cristã está fundamentada nas dez palavras ou nos Dez
Mandamentos (como aparece em nossas versões da Bíblia) e qual a sua relevância
para a Igreja de Cristo na atualidade.
I – O
QUE SIGNIFICA CUMPRIR A LEI
- Conforme vimos no início do trimestre, Deus é o Senhor
de todas as coisas, vez que criou céus e terra
(Gn.1:1), a Ele, pois, tudo pertencendo (Sl.24:1). Em virtude do senhorio
de Deus, temos que é d’Ele a fonte de toda a ordem que existe
no Universo, sendo Ele o autor das leis que regem tanto o mundo
físico, quanto
o mundo
moral.
-
Destarte, as leis instituídas pelo Senhor são imutáveis e
todas as Suas criaturas estão submetidas a tais leis.
As leis estabelecidas por
Deus, portanto, não podem jamais ser revogadas, são imutáveis, pois Deus é
imutável (Ml.3:6).
- Portanto,
os preceitos estabelecidos por Deus para o ser humano, preceitos morais indispensáveis para que o homem
possa cumprir o propósito a ele determinado pelo seu Criador, valem em todas as épocas,
sendo essencialmente os mesmos
desde a
criação do homem.
- Diante desta realidade, precisamos, pois, observar que
a “lei de Deus” sempre existiu, desde
a criação do mundo,
pois é a expressão da Sua vontade para com o homem e, como tal, em todas as dispensações, ou seja, em todos os períodos em que
Deus Se relacionou com o homem de
um determinado modo buscando a salvação da humanidade, sempre havia preceitos que o homem deveria observar, reconhecendo, assim, a
soberania e o senhorio divinos,
reconhecendo ser apenas uma criatura que deveria servir ao
seu
Criador.
- Não devemos, portanto, confundir a “lei de Deus”, este conjunto de princípios e
regras estatuídos por Deus ao homem para que
este pudesse cumprir o propósito divino, na condição de ser moral que é, com a
dispensação da lei, que
foi
um período em que
Deus tratou com a humanidade, através do pacto estabelecido no
monte Sinai com Israel, a propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, pacto este que teve nos
dez
mandamentos, escritos pelo dedo de
Deus nas duas tábuas de
pedra
(Dt.4:12,13), a sua síntese, o seu
resumo.
- A dispensação da lei é um
período que se inicia no pacto estabelecido entre Deus e Israel no monte Sinai e
que
termina quando do sacrifício de Cristo Jesus na cruz do Calvário, que é quinto período da revelação progressiva
de Deus
à humanidade, de Seu
plano para a salvação da humanidade.
- Por isso, não
podemos confundir a lei de Deus com a dispensação da lei. Deus é o Senhor e o Soberano, de modo que sempre teremos de
seguir as Suas regras, os Seus preceitos, os Seus princípios, pois Ele é o Senhor e nós, Seus servos. Por isso, o ser humano sempre estará debaixo da lei de Deus, sempre deverá obedecer ao
Senhor, reconhecendo
Sua
soberania e Seu
senhorio.
- A dispensação da lei, no entanto, foi um período em que, diante da incredulidade de Israel e da sua
imaturidade
espiritual, não pôde
o Senhor instituir
a comunhão completa com
Ele, não pôde fazer
de Israel o reino sacerdotal e povo santo que havia proposto aos israelitas no Sinai, dispensação esta que se constituiu de
613 preceitos, que deveriam ser observados pelos israelitas, enquanto eles aguardavam a
vinda do Messias, Aquele que faria o que a atitude de Israel no pacto do Sinai não permitiu que se fizesse, ou seja,
o estabelecimento
da
unidade entre Deus e Israel, da perfeita comunhão,
da retirada do
pecado
e da salvação.
- A lei trazida por Moisés
ao povo de Israel, portanto, representa este pacto transitório, em que se
aguardaria a consumação da salvação, o que somente se faria por intermédio de Cristo Jesus, o
Messias prometido e anunciado
pelo próprio Moisés (Dt.18:15-19). Seria este
profeta que
complementaria o
plano salvífico de
Deus, tornando-o pleno e
não
apenas um paliativo e remédio, não apenas um aio,
permitindo, assim, que se
concretizasse
o que proposto por Deus
e não aceito por Israel no monte
Sinai.
II – O SENHOR JESUS VIVEU A LEI
-
Entendida, então, a distinção entre a lei de Deus e
a dispensação da lei, precisamos
ver qual o papel que
Jesus desempenhou em relação à
lei, pois, como vimos, Cristo foi anunciado por
Moisés como sendo um profeta que
deveria ser ouvido pelo povo e
que traria aquilo que Moisés não pôde trazer ao povo quando do estabelecimento
do pacto entre Deus e Israel no monte
Sinai.
- O próprio Jesus diz qual é o Seu papel em relação à lei logo no
sermão do monte, que é o Seu discurso ético
por excelência, onde temos o resumo da Sua doutrina (Mt.7:28).
-
O Senhor
inicia
Seu sermão ético apontando
as bem-aventuranças (Mt.5:1-12),
que nada mais são que as
qualidades que deve ter o discípulo de Cristo
Jesus. Quando analisamos as bem-aventuranças, percebemos
que o discípulo de Jesus é
alguém que tem qualidades que
não se encontram em a natureza humana
depravada pelo
pecado, mas que
exige uma nova criação para se
manifestar.
- A natureza pecaminosa do homem não pode gerar a bem-aventurança, pois a carne não pode produzir o
que é espiritual. Por
isso, é necessário que
nasçamos de novo e
este novo nascimento somente
é possível mediante a fé em Cristo
Jesus.
- Vemos, portanto, que
Jesus não veio para
destruir a
lei, lançá-la abaixo, anulá-la, invalidá-la. Jesus, sendo
Deus, sendo o Verbo (Jo.1:1-3,14), não poderia desfazer aquilo que
Ele mesmo fizera, pois Deus é imutável (Ml.3:6), não é homem para que minta, nem filho do homem para que
se arrependa (Nm.23:19). O mandamento é justo, bom e santo (Rm.7:12), é a expressão da vontade de Deus e não poderia, por isso
mesmo, ser anulado, invalidado pelo
próprio Deus que o deu.
- Jesus não pode
destruir a lei, pois a lei foi estabelecida por Deus desde a criação do homem, como um regramento moral necessário e
indispensável para seres morais criados por Deus e que
não
serão jamais
aniquilados pelo Criador.
- Jesus foi incisivo, portanto, ao mostrar que não veio invalidar a lei, não veio desintegrá-la, anulá-la
nem destruí-la, até porque, como Deus, não poderia fazê-lo, pois Deus não é contraditório, é imutável, não
pode negar-Se a
Si
mesmo (II Tm.2:13).
- Jesus, entretanto,
disse que veio “cumprir”
a
lei.
A palavra grega
utilizada
aqui é
“pleróo” (πληρόω), cujo significado é o de “encher completamente, encher até a boca, satisfazer, executar,
concluir, verificar, realizar, aperfeiçoar, estar
completo” (Bíblia de Estudo
Palavra-Chave. Dicionário do Novo Testamento, n.4137, p.2358).
- Jesus, porém, veio ao
mundo para cumprir esta lei que ninguém havia cumprido,
veio realizá-la, ou seja, torná-la
um fato histórico e não
apenas
preceitos escritos que jamais haviam se tornado
realidade.
- Jesus cumpriu a lei integralmente, em todos os seus preceitos, sejam os morais, sejam
os civis, sejam
os cerimoniais. Como
bem
ensina Frank Brito, a lei continha preceitos morais, estabelecidos por Deus
independentemente do pecado, desde o instante da criação do mundo, como também preceitos civis e cerimoniais, que
foram estabelecidos por causa do pecado, já que o
pecado persistiu
existindo, ante a incredulidade e o distanciamento dos israelitas no monte Sinai.
-
Por isso, ao expirar na cruz, o véu do templo se rasgou de alto a
baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45), a indicar que a barreira que
existia entre Deus e o homem havia se
rompido e que, agora, o homem podia,
por Cristo, ter pleno acesso ao Senhor,
podia entrar em comunhão
com
o Senhor, podia, finalmente, ser
salvo e, portanto, poderia, em Cristo,
cumprir a lei e na sua plenitude.
III –
A LEI NÃO PODE SER REVOGADA
- Jesus veio cumprir a lei, ou seja, dar-lhe o verdadeiro sentido e torná-la uma realidade histórica,
completando aquilo que ficara inconcluso quando do pacto entre Deus e Israel. Através de Jesus,
vieram a graça e a verdade (Jo.1:17) e, por meio
deste favor imerecido, a Palavra pode ser inserta em nossos corações e, assim, não mais vivemos, mas Cristo vive em nós, somos novas criaturas capazes de cumprir os preceitos morais
que
constavam da lei transmitida aos
israelitas por intermédio
de Moisés.
- Ao cumprir a lei e tirar o pecado do mundo mediante o sacrifício perfeito ocorrido na cruz do Calvário, o
Senhor Jesus, como diz o apóstolo
Paulo, nos permitiu chegar perto de Deus (Ef.2:13),
formando um
novo povo, decorrente da união de judeus
e de gentios, a Igreja, criando um novo homem, desfazendo a
inimizade,
ou seja, a lei dos mandamentos (Ef.2:14-16).
-
Não estamos, pois, como Igreja,
debaixo da lei. Cristo nos resgatou da maldição da lei, uma vez que,
morrendo por nós e
pagando o preço dos nossos pecados, pôde
nos
trazer a graça, ou seja, o favor imerecido de recebermos
o perdão dos pecados, a
retirada dos pecados,
pela fé em Cristo
Jesus,
fazendo-nos, portanto, chegar
perto de Deus. A lei, instituída por
causa do distanciamento do povo de Israel, não se
aplica àqueles, judeus
ou gentios, que se
chegam a Deus pelo sangue de Jesus,
pela
fé n’Ele.
- Quando não mais vivemos, mas Cristo vive em nós, podemos cumprir os mandamentos, em sinal de gratidão a Deus e como resultado da vida de comunhão que temos com o Senhor. É esta a unidade que
o Senhor Jesus diz ter vindo
estabelecer, em Sua oração sacerdotal, quando afirma que esta unidade
é constituída para que o
mundo creia que Ele
foi enviado pelo Pai
(Jo.17:22,23).
- É evidente que, mesmo salvos em
Cristo Jesus, não temos condição de cumprir integralmente os mandamentos, visto que a natureza pecaminosa ainda habita em
nós
e, vez ou outra, pecamos, visto
que
ainda não fomos glorificados. O mesmo Catecismo de Heidelberg atesta isto, em definições lapidares,
que valem a pena transcrever:
- É por isso que o apóstolo Paulo diz que a fé não anula a lei, mas, antes, a estabelece (Rm.3:31), pois, a
partir do momento que somos salvos pela graça, pela fé em Cristo,
tendo os nossos
pecados perdoados e nascendo de novo pelo Espírito, passamos a ser homens espirituais (I
Co.2:14,15) e, como novas criaturas,
podemos, então, cumprir os preceitos morais
da lei,
a chamada “lei de
Cristo” (I Co.9:21;
Gl.6:2).
-
Por isso, não temos “liberdade” para pecar (Rm.6:1-7). É este o simbolismo do batismo nas águas: morremos para
o pecado, não mais vivemos, mas agora Cristo vive em nós e, por isso, somos livres e
resgatados do pecado, para
viver conforme a vontade de Deus, o que
significa
que passaremos a
cumprir os mandamentos,
passaremos a ter
qualidades especiais, presentes no
fruto do Espírito (Gl.5:22).
-
Daí
porque termos estudado
os dez mandamentos
neste trimestre, condutas que, em sendo praticadas por
nós, pelo fato de Cristo viver em nós, dará um alto testemunho da salvação em Cristo Jesus, não só
demonstrando que estamos caminhando para
o céu, mas levando outros também a
seguir este caminho.
Temos tido tal consciência? Que Deus nos ajude a cumprirmos tal objetivo de Deus em nossas vidas.
Amém!
IV – A LEI E O EVANGELHO
Tais
críticos fazem uma falsa dicotomia entre a Lei e o Evangelho.
Chamamos
de "Palavra de Deus" os livros canônicos do Antigo e Novo
Testamentos, por terem procedido da boca do próprio Deus.
Dividimos esta Palavra em duas
partes principais: uma e chamada "Lei", a outra
"Evangelho"'.
O que chamamos de Lei é a doutrina
cuja semente é escrita pela natureza em nossos corações. Entretanto, para que
nosso conhecimento fosse mais preciso, ela foi escrita por Deus, em duas tábuas
e é compreendida, resumidamente, em dez mandamentos. Neles, Deus estabelece
para nós a obediência e a perfeita justiça, as quais devemos a Sua majestade e
aos nossos semelhantes, em termos contrastantes: vida eterna, se guardarmos a
Lei perfeitamente, sem omitir um ponto sequer, ou morte eterna, se não
cumprirmos completamente cada mandamento (Dt. 30: 15-20; Tg. 2:10).
O que chamamos de Evangelho (Boas
Novas) é a doutrina que não está totalmente em nós por natureza, mas é revelada
do céu (Mt. 16:17; Jo. 1: 13) e supera totalmente, o conhecimento natural. Por
ele, Deus testifica que é Seu propósito nos salvar graciosamente através de Seu
único Filho (Rm. 3:20-22), providenciando que, pela fé, nós recebamos a Jesus
como nossa única sabedoria, justificação, santificação e redenção (1 Co. 1:30).
Por ele (o evangelho), o Senhor nos testifica todas essas coisas, e o faz de
tal maneira, que ao mesmo tempo Ele nos renova de forma poderosa, nos
capacitando a receber os benefícios que nos são ofertados. (1 Co. 2:4).
Vejamos os textos abaixo:
1º)
Em Romanos 3:19, 20 Paulo diz que não somos salvos pela lei porque a função
dela é nos dar conhecimento de que somos pecadores. Essa função da lei é
novamente apresentada pelo apóstolo em Romanos 7:7.
2º) Em complemento a isso, Paulo diz em Romanos 7:12 que a
Lei é “santa, justa e boa”, ou seja: ela reflete o caráter de Deus, seu
Legislador (Is 33:22): um caráter santo, justo e bom.
3º) Já em Romanos 7:14, ele afirma que a lei é “espiritual”.
Isso significa que ela é de origem divina. Desse modo, a lei deve ser observada
espiritualmente, pela fé (Rm 1:5 e 16:26) e jamais como um “meio” de salvação
(Ef 2:8-9; Gl 3:1-3).
Agora, veja como a Lei e o Evangelho estão de “mãos dadas”:
É a partir do momento em que contemplamos a lei e vemos o
quanto somos pecadores por não conseguirmos viver 100% dentro dos padrões dela,
é que sentimos a necessidade de um Salvador, que é Cristo – e mais ninguém! (At
4:12). Se tirarmos a Lei de nossa experiência cristã, não teremos aquele
“espelho” que mostra nossa condição pecaminosa para que corramos para os braços
de Jesus – o único que pode “nos limpar” por Sua graça e Justiça (Rm 3:25, 26).
Além disso, se a Lei tivesse sido abolida, a cruz
perderia todo o sentido. Afinal, Cristo teria morrido para pagar o quê? Por
qual pecado Ele teria morrido se não houvessem padrões morais que tivessem sido
transgredidos pela humanidade? Como bem disse Paulo em Romanos 5:13: “o pecado
não é levado em conta quando não há lei”. Sendo que há pecado, isso prova que
existe uma Lei que é transgredida e pela qual o próprio Deus pagou para nos dar
a vida eterna em Cristo!
A
respeito desse assunto, assim se posicionou uma Bíblia de Estudo evangélica (de
não observadores do sábado), em uma nota de rodapé a respeito de Romanos 3:31:
“As leis morais de Deus não são abolidas pelo evangelho de
Cristo. Ao invés disso, todo o plano de salvação, incluindo a obediência de
Cristo à Lei por nós e sua morte para pagar a penalidade por termos violado a
Lei, mostra que os padrões morais de Deus são eternamente válidos.” (Bíblia
de Estudo Plenitude. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2001, p.
1155).
Percebeu a incoerência dos críticos em tentarem anular a Lei
de Deus, ainda mais tendo em vista as palavras de Jesus em Mateus 5:17-19?
Desse modo, o fato de o sábado ser um símbolo do descanso
espiritual que desfrutamos em Jesus todos os dias (Hb 4) em nada afeta o mandamento.
Continuamos tendo essa obrigação moral e espiritual para com Deus (Ex 20:8-11;
compare com Ap 14:6, 7 e 12) como sinal de nossa aliança de amor e respeito a
Ele (Ez 20:12, 20, 21).
“Desvenda os meus
olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.”
Um abraço e que Deus lhe abençoe e guarde amigo leitor.
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