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terça-feira, 31 de março de 2015

O HOMEM A QUEM DEUS USA

Por Alex Sandro



Referência: Lucas 3.1-14

INTRODUÇÃO
1. A maior necessidade do mundo é de Deus que sejam usados por Deus. Deus não unge métodos, Deus unge homens. Não precisamos de melhores métodos, mas de melhores homens.
2. Havia 400 anos que a Nação de Israel estava sem ouvir a voz profética. Ele não veio da classe sacerdotal. Não veio no palácio. Mas veio a Palavra do Senhor a João, no deserto. Deus usa gente estranha, em lugares estranhos.
3. João Batista era fruto de profecia, resposta de oração, milagre do céu.

I. É UM HOMEM COM UMA MISSÃO – V. 4
1. Por que Deus usou este homem?
a) Porque ele não era um caniço balançado pelo vento (Mt 11:7-11)
Hoje estamos vendo líderes vendendo seu ministério, negociando valores absolutos, mercadejando o evangelho. João não transigia com a verdade. Ele denunciava o pecado na vida do rei, dos religiosos, dos soldados e do povo.
Ele não era um profeta da conveniência. Seus inimigos diziam: Tem demônio; Jesus dizia: É profeta!
b) Porque era uma lâmpada que ardia e alumiava (Jo 1:6-9)
Ele não era a luz, mas uma lâmpada que ardia e alumiava. Ele apontou para Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus”. Ele não buscou glórias para si mesmo. Disse: “Convém que ele cresça e eu diminua”.
Ele era como uma vela: iluminou com intensidade enquanto viveu.
c) Porque ele não era um eco, mas uma voz (Jo 1:22,23)
João não apenas proferia a verdade, ele era boca de Deus. Ele falava com poder. Hoje, há muitas palavras, mas pouco poder; as pessoas escutam belos discursos, mas não vêm vida. Ele prega o conhece e experimenta. Ele não era da elite sacerdotal. Ele não estava no templo. Mas havia poder em sua vida.
Não basta ser um eco, é preciso ser uma voz. Não basta carregar o bastão profético como Geazi, é preciso ter poder como Eliseu. Não basta falar aos homens, é preciso conhecer a intimidade de Deus.
“Se Deus não falou com você, não fale a nós.”
d) Porque ele era um homem humilde (Mt 3:11)
João Batista disse: “eu não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”. Disse ainda: “Convém que ele cresça e eu diminua”.
Lata vazia é que faz barulho. Espiga chocha é que fica empinada.
O albatroz voa baixo porque tem o papo muito grande.
e) Porque ele era um homem corajoso (Lc 3:19)
João Batista não aplaudiu Herodes quando ele casou-se com a mulher do seu irmão. Ele denunciou o pecado do rei. Ele preferiu ser preso e ser degolado do que transigir com a verdade. Ele preferiu a morte à infidelidade.
Hoje, há pastores que vendem o ministério e a própria alma por dinheiro. Em vez de denunciar o mal, praticam-no.
f) Porque era um homem cheio do Espírito Santo (Lc 1:15)
João Batista era um homem cheio do Espírito Santo desde o ventre materno.
Aos 5 meses de idade, estremeceu de alegria no ventre da sua mãe. Aos 5 meses já vibrava por Cristo. Há muitos que envelhecem frios e indiferentes ao Salvador.
2. Como Deus usou este homem?
a) Deus usou este homem para aterrar os vales (Lc 3:5)
Vale é uma depressão, um buraco – Há abismos na vida do povo: impureza, desânimo, comodismo, mundanismo.
Vale separa dois montes – Falta de comunhão, mágoa, contendas, maledicência.
b) Deus usou este homem para niver os montes (Lc 3:5)
Montes falam de soberba – O orgulho são montanhas que impedem a passagem do Senhor. Onde há soberba Deus não se manifesta. Nabucodonosor foi comer capim. Herodes foi comido de vermes.
Montes falam de incredulidade – A increduldade nos afasta de Deus e de suas bênçãos.
c) Deus usou este homem para endireitar os caminhos tortos (Lc 3:5)
Caminho torto fala de duplicidade, hipocrisia, e desonestidade – Muitas pessoas são impedimentos para a manifestação de Cristo, porque têm vida dupla. São uma coisa na igreja e outra em casa.
d) Deus usou este homem para aplainar os caminhos escabrosos (Lc 3:5)
Caminho escabroso fala de algo que está fora do lugar – Há algo fora do lugar em sua vida: vida devocional? Namoro? Casamento? Dinheiro? Dízimo?

II. É UM HOMEM COM UMA MENSAGEM – Lc 3:8
1. A Palavra que ele prega é Palavra de Deus e não palavras de homens – Lc 3:2
Depois de 400 anos de silêncio profético, João aparece pregando sobre arrependimento. A nação havia se desviado de Deus. A religião estava corrompida. Os palácios estavam corrompidos. Os que trabalhavam na secretaria da fazenda estavam corrompidos. Os soldados estavam corrompidos.
A mensagem do arrependimento não é popular. Não é palatável. Mas, João não quer agradar a homens, mas a Deus.
Nossa nação está vivendo um tempo de crise sem precedentes. Estamos de luto. Nossas instituições estão doentes. A corrupção está no DNA da Nação.
a) Numa época de crise moral na nação
Os líderes religiosos da nação estavam corrompidos: Anás e Caifás eram sumo sacerdotes, mas não conheciam a Deus.
A polícia extorquia o povo para engordar o salário e fazia denúncias falsas.
Herodes, era um homem devasso e adúltero.
Nosso país atravessa uma aguda crise moral: lares sendo destruídos; o tráfico de drogas crescendo, o nosso parlamento se enchendo da lama da corrupção. A corrupção ganhando o cérebro e o coração da nação.
b) Numa época de crise social na nação
O povo trabalhava, mas Roma ficava com o lucro. Reinava a pobreza, a fome, o desespero. O Brasil é o segundo país do mundo com o pior distribuição de renda.
Vivemos a crise da pobreza, da fome, da violência, da impunidade.
c) Numa época de crise política na nação
A nação estava nas mãos de homens maus. Pôncio Pilatos e Herodes eram um espelho da nação.
Nossa representação política agoniza num dos níveis mais baixos de descrédito, de desmoralização, de aviltamento da honra.
d) Numa época de crise espiritual na nação
O povo era religioso, mas não convertido. Eles não produziam frutos dignos de arrependimento.
O povo estava descansando numa falsa segurança (v. 8).
O povo estava indo para o juízo, sem se preparar (v. 7,9).
Hoje, a igreja evangélica cresce, mas a nação não muda. As pessoas estão entrando para um outro evangelho, o evangelho da conveniência.
2. O cenário em que ele prega e quem ele é demonstram que Deus pode trazer restauração para a nação a partir do próprio caos (Mt 3:5)
e) O local parecia impróprio – Era no deserto – João não pregava no templo, nas sinagogas, nas praças floridas de Jerusalém, mas no deserto árido da Judéia.
f) A apresentação pessoal parecia imprópria – Vestia-se não de terno, mas de peles de camelo. Não comia nos restaurantes requintados de Jerusalém, mas alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Não aperou um só milagre. Não se assentou aos pés dos grandes mestres. Não se apresentava como Exmo. Sr. Dr. Professor João. Mas ele abalou uma nação! Fez tremer o palácio de Herodes.
g) Mas a multidão é atraída – Vinha a ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão. Oh! Que Deus levanta homens nessa Nação com a fibra de João. Que as multidões possam ser confrontadas!
3. As pessoas que ele chama ao arrependimento revelam sua ousadia espiritual
a) Os fariseus e saduceus (Mt 3:7-9) – Ele denunciou os conservadores fariseus e os liberais saduceus. A religião judaica estava tomada por um bando de homens não convertidos.
b) A multidão (Lc 3:10) – “Que havemos de fazer?” Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem. Quem tiver comida, faça o mesmo.
c) Os Publicanos (Lc 3:12) – “Não cobreis mais do que o estipulado”. Honestidade nas transações. Deixem de lado as superfaturações.
d) Os soldados (Lc 3:14) – “A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa, contentai-vos com o vosso soldo”.
e) Herodes (Lc 3:19) – João denunciou o pecado do rei. Chamou-o de adúltero.
f) O arrependimento é grande manchete de Deus – a) Na preparação – João Batista diz: Arrependei-vos; b) Na Inauguração – Jesus vem e conclama: Arrependei-vos; c) No Pentecostes – Pedro prega: Arrependei-vos.
g) O arrependimento envolve: 1) Generosidade no dar (v. 10,11); 2) Honestidade nos negócios (v. 12,13); 3) Justiça nos relacionamentos (v. 14); 4) Integridade na palavra; 5) Ausência de ganância

III. É UM HOMEM COM UMA CONVICÇÃO – Lc 3:9: “Mas já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo”.
1. A mensagem de Deus é arrepender e viver ou não arrepender e morrer
A mensagem do evangelho traz salvação e condenação.
O ímpio não permanecerá na congregação dos justos.
Quem não estiver trajado de vestes nupciais será lançado fora.
A figueira sem fruto secou desde à raiz.
A figueira estéril será cortada.
2. A mensagem de Deus é um apelo urgente a todos
O apelo de Deus alcança os religiosos, a multidão, os soldados, os publicanos. Deus desnuda a todos. As máscaras caem. Deus diz o machado já está posto na raiz. Não dá mais para esperar. O tempo é agora. O reino já chegou.
Deus espera agora frutos dignos de arrependimento!
Você tem produzido frutos dignos de arrependimento?
3. A mensagem Deus mostra o juízo inevitável para quem deixa de arrepender-se – v. 7-8
O tempo de João era de profunda crise espiritual. Os próprios líderes eram homens não regenerados. A multidão estava perdida. Havia crise nos políticos, nos comerciantes, na polícia. João diz que a ira vindoura chegará.
Os que escapam dos tribunais da terra, jamais escaparão da ira de Deus!

CONCLUSÃO
1. O arrependimento prepara o caminho para uma grande bênção
a) Uma bênção sem limites – “toda a carne vera a salvação de Deus”
Quando a igreja se arrepende, o mundo vê a salvação de Deus.
Quando a igreja se volta para Deus, o mundo experimenta a salvação de Deus.
b) Uma bênção inequívoca – “toda a carne VERÁ”
Quando a igreja se arrepende, a salvação de Deus irromperá além das quatro paredes. Multidões virão a Cristo.
O avivamento que alcança o mundo com a salvação, começa com a igreja através do arrependimento.
c) Uma bênção indizível – “toda a carne verá a salvação de Deus”
Quando a igreja acerta sua vida com Deus, algo tremendo e extraordinário pode acontecer no mundo.

Se queremos ver nossa cidade impactada, precisamos acertar nossa vida com Deus. Precisamos aplicar os princípios de Deus em nossa própria vida.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Lição 01 - O Evangelho Segundo Lucas

Por Alex Sandro

Jesus, o Homem Perfeito
O Evangelho de Lucas, o médico amado
Comentarista: José Gonçalves



Lição 1: O Evangelho segundo Lucas

Data: 5 de Abril de 2015
TEXTO ÁUREO
“Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado” (Lc 1.4).
VERDADE PRÁTICA
O cristão possui uma fé divinamente revelada e historicamente bem fundamentada.
LEITURA DIÁRIA

Segunda — Lc 3.1,2

O cristianismo no seu cenário histórico

Terça — Lc 1.1-4

O cristianismo se fundamenta em fatos

Quarta — Lc 16.16

O cristianismo no contexto bíblico

Quinta — Lc 2.23-28

O cristianismo em seu aspecto universal

Sexta — Lc 1.35; 5.24

O cristianismo e a deidade de Jesus

Sábado — Lc 4.18

O cristianismo e o Ministério do Espírito
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Lucas 1.1-4.

Lucas 1

1 — Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 — segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra,
3 — pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio,
4 — para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.
HINOS SUGERIDOS
3, 46 e 162 da Harpa Cristã
OBJETIVO GERAL
Apresentar um panorama do Evangelho de Lucas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

I. Apresentar o terceiro Evangelho.

II. Conhecer os fundamentos e historicidade da fé cristã.
III. Afirmar a universalidade da fé cristã.
IV. Expor a identidade de Jesus, o Messias esperado.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Prezado professor, neste segundo trimestre estudaremos a respeito do terceiro Evangelho, cujo autor é Lucas, o médico amado. Seu relato é um dos mais completos e ricos em detalhes a respeito do nascimento e infância do Salvador. Lucas era um gentio, talvez por isso, em sua narrativa, procure apresentar a Jesus como o Filho do Homem. Ele apresenta o Salvador como o Homem Perfeito que veio salvar a todos, judeus e gentios.

O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves — professor de Teologia, escritor e vice-presidente da Comissão de Apologética da CGADB.
Que mediante o estudo de cada lição você possa conhecer mais a respeito do Filho de Deus, que se fez homem e habitou entre nós.
Tenha um excelente trimestre.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O Evangelho de Lucas é um dos livros mais belos e fascinantes do mundo. De fato, o terceiro Evangelho se distingue pelo seu estilo literário, pelo seu vocabulário e uso que faz do grego, considerado pelos eruditos como o mais refinado do Novo Testamento. Mas a sua maior beleza está em narrar a história da salvação (Lc 19.10). O autor procura mostrar, sempre de forma bem documentada, que o plano de Deus em salvar a humanidade, revelado através da história, cumpriu-se cabalmente em Cristo quando Ele se deu como sacrifício expiador pelos pecadores (Jo 10.11). Deus continua sendo Senhor da história e o advento do Messias para estabelecer o seu Reino é a prova disso. Lucas mostra que é através do Espírito Santo, primeiramente operando no ministério de Jesus e, posteriormente na Igreja, que esse propósito se efetiva.



PONTO CENTRAL
O plano da salvação do cristianismo pode ser localizado com precisão dentro da história.



I. O TERCEIRO EVANGELHO

1. Autoria e data. Lucas, “o médico amado” (Cl 4.14), a quem é atribuída a autoria do terceiro Evangelho, é citado no Novo Testamento três vezes. Todas as citações estão nas epístolas paulinas e são usadas no contexto do aprisionamento do apóstolo Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11). Embora o autor do terceiro Evangelho não se identifique pelo nome, isso não depõe contra a autoria lucana. Desde os seus primórdios, a Igreja Cristã atribui a Lucas a autoria do terceiro Evangelho. A crítica contra a autoria de Lucas não tem conseguido apresentar argumentos sólidos para demover a Igreja de sua posição. A erudição conservadora assegura que Lucas escreveu a sua obra (aproximadamente) no início dos anos sessenta do primeiro século da era cristã.

2. A obra. Lucas era historiador e médico. Ele escreveu sua obra em dois volumes (Lc 1.1-4; At 1.1,2). O terceiro Evangelho é a primeira parte desse trabalho e é uma narrativa da vida e obra de Jesus, enquanto os Atos dos Apóstolos compõem a segunda parte e narram o caminhar espiritual dos primeiros cristãos da Igreja Primitiva.
3. Os destinatários originais. O doutor Lucas endereçou seu Evangelho a Teófilo, certamente uma pessoa importante que devia ocupar uma alta posição social, sendo citado como “excelentíssimo”. Pode se dizer que além deste ilustre destinatário, Lucas também escreveu aos gentios. O terceiro Evangelho pode ser classificado como sendo de natureza soteriológica e carismática. Soteriológica, porque narra o plano da salvação, e carismática porque dá amplo destaque ao papel do Espírito Santo como capacitador do ministério de Jesus Cristo.
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
Lucas, o médico amado, é o autor do terceiro Evangelho, que foi endereçado a Teófilo, um gentio.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Lucas inicia seu Evangelho com uma declaração especial: ele mesmo havia se ‘informado minuciosamente de tudo [sobre a vida de Jesus] desde o princípio’ (1.1-4). Dessa forma, o Evangelho de Lucas é um relatório cuidadoso e historicamente exato do nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus. Contudo, ao lermos Lucas percebemos que a sua obra não é uma repetição monótona das datas e ações. A escrita de Lucas é vívida, nos atraindo para dentro dos eventos que ele descreve. A escrita de Lucas também exibe uma fervorosa sensibilidade quanto aos detalhes pessoais íntimos” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, p.133).
II. OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ

1. O cristianismo no seu contexto histórico. Lucas mostra com riqueza de detalhes sob que circunstâncias históricas se deram os fatos por ele narrados. Vejamos: “E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3.1,2). Esses dados têm um propósito claro: mostrar que o plano da salvação no cristianismo pode ser localizado com precisão dentro da história. A fé cristã, portanto, não se trata de uma lenda ou fábula engenhosamente inventada. São fatos históricos que poderiam ser testados e provados e, dessa forma, podem ser aceitos por todos aqueles que procuram a verdade.

2. Discipulado através dos fatos. A palavra grega katecheo, traduzida como “informado” ou “instruído” no versículo 4, deu origem à palavra portuguesa catequese. Esse vocábulo significa também: doutrinar, ensinar e convencer. Nesse contexto possui o sentido de “discipular”. Lucas escreveu o seu Evangelho para formar discípulos. O discipulado, para ser autêntico, deve fundamentar-se na veracidade dos fatos da fé cristã. Nos primeiros versículos do seu Evangelho, Lucas revela, portanto, quais seriam as razões da sua obra (Lucas 1.1-4). O terceiro Evangelho foi escrito para mostrar os fundamentos das verdades nas quais os cristãos são instruídos.
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A veracidade dos fatos narrados por Lucas pode ser comprovada pela história.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Lucas presta bastante atenção aos eventos que ocorreram antes do nascimento de Jesus, uma atenção maior que aquela que os outros evangelistas dedicaram ao assunto” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, p.134).
III. A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO

1. A história da salvação. A teologia cristã destaca que Lucas divide a história da salvação em três estágios: o tempo do Antigo Testamento; o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. O terceiro Evangelho registra as duas primeiras etapas e o livro de Atos, a terceira (Lc 16.16). No contexto de Lucas a expressão a “Lei e os Profetas” é uma referência ao Antigo Testamento, onde é narrado o plano de Deus para o povo de Israel. A frase “anunciado o Reino de Deus” se refere ao tempo de Jesus que, através do Espírito Santo, realiza e manifesta o Reino de Deus. O tempo da Igreja ocorre quando o Espírito Santo, que estava sobre Jesus, é derramado sobre todos os crentes.

2. A salvação em seu aspecto universal. O aspecto universal da salvação, revelado no terceiro Evangelho pode ser facilmente observado pelo seu amplo destaque dado aos gentios. O próprio Lucas endereça a sua obra a um gentio, Teófilo (Lc 1.1,2). A descendência de Cristo, o Messias prometido, vai até Adão, o pai de todos, e não apenas até Abraão, o pai dos judeus (Lc 3.23-38). Fica, portanto, revelado que os gentios, e não somente os judeus, estão incluídos no plano salvífico de Deus (Lc 2.32; 24.47). Destaque especial é dado para os samaritanos (Lc 9.51-56; 10.25-37; 17.11-19). Há ainda outras particularidades do Evangelho de Lucas que mostram o interesse de Deus por toda a humanidade, especialmente os pobres e excluídos (Lc 19.1-10; 7.36-50; 23.39-43; 18.9-14).
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
Todos estão incluídos no plano salvífico de Deus: gentios e judeus.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“A Verdadeira Identidade do Filho

Os aspectos-chave na vida de Jesus ajudaram os primeiros cristãos a perceber, de uma forma nova e única, que Ele era o ‘Filho de Deus’.
• A encarnação. Jesus foi concebido pelo poder do Espírito Santo de Deus, e não por um pai humano. De forma consistente, também falou de como saiu ‘do Pai’ para vir ‘ao mundo’ (Jo 16.28). Enquanto, para outros seres humanos, o nascimento é o início da vida, o nascimento de Jesus era uma encarnação — Ele existia como o Filho de Deus antes de seu nascimento humano. Jesus, de forma distinta dos governantes pagãos, não era um filho adotado dos deuses, mas sim o eterno Filho de Deus.
• O reconhecimento por Satanás e pelos demônios. Enquanto a identidade verdadeira de Jesus, durante seu ministério terreno, estava velada para seus discípulos, ela foi reconhecida por Satanás (Mt 4.3,6) e pelos demônios (Lc 8.28).
• A ressurreição e ascensão. Jesus foi morto por afirmar que falava e agia como o Filho de Deus. A ressurreição representou a confirmação de Deus de que Jesus falava a verdade sobre si mesmo. Paulo apontou a ressurreição como a revelação ou declaração da verdadeira identidade de Jesus como Filho de Deus (Rm 1.4). Depois da ressurreição, Jesus retornou ao Pai para ficar no lugar de honra, à direita de Deus” (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2013, pp.34,35).
IV. A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO

1. Jesus, o homem perfeito. No Evangelho de Lucas, Jesus aparece como o “Filho de Deus” (Lc 1.35) e “Filho do Homem” (Lc 5.24). São expressões messiânicas que revelam a deidade de Jesus. A primeira expressão mostra Jesus como verdadeiro Deus enquanto a segunda, que ocorre 25 vezes no terceiro Evangelho, mostra-o como verdadeiro homem. Ele é o Filho do Homem, o Homem Perfeito. Ao usar o título “Filho do Homem” para si mesmo, Jesus evita ser confundido com o Messias político esperado pelos judeus. Como Homem Perfeito, Jesus era obediente a seus pais. Todavia, estava consciente de sua natureza divina (Lc 2.4-52). É como o Homem Perfeito que Jesus enfrenta, e derrota, Satanás na tentação do deserto (Lc 4.1-13).

2. O Messias e o Espírito Santo. Lucas revela que Jesus, o Messias, como Homem Perfeito, dependia do Espírito Santo no desempenho do seu ministério (Lc 4.18). Isaías, o profeta messiânico, mostra a estreita relação que o Messias manteria com o Espírito do Senhor (Is 11.1,2; 42.1). O Messias seria aquele sobre quem repousaria o Espírito do Senhor, tal como profetizara Isaías e Jesus aplicara a si, na sinagoga em Nazaré (Lc 4.16-19; Is 61.1).
SÍNTESE DO TÓPICO (IV)
Lucas apresenta Jesus como o Filho de Deus e o Filho do Homem, ressaltando tanto a sua humanidade quanto a sua divindade.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Lucas descreveu como o Filho de Deus entrou na História. Jesus viveu de forma exemplar, foi o Homem Perfeito. Depois de um ministério perfeito, Ele se entregou como sacrifício perfeito pelos nossos pecados, para que pudéssemos ser salvos.

Jesus é o nosso Líder e Salvador perfeito. Ele oferece perdão a todos aqueles que o aceitam como Senhor de suas vidas e creem que aquilo que Ele diz é a verdade” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RJ: CPAD, p.1337).
CONCLUSÃO
O terceiro Evangelho é considerado a coroa dos Evangelhos sinóticos. Enquanto o Evangelho de Mateus enfoca a realeza do Messias e Marcos o poder, Lucas enfatiza o amor de Deus. Lucas é o Evangelho do Homem Perfeito; da alegria (Lc 1.28; 2.11; 19.37; 24.53); da misericórdia (Lc 1.78,79); do perdão (7.36-50; 19.1-10); da oração (Lc 6.12; 11.1; 22.39-45); dos pobres e necessitados (Lc 4.18) e do poder e da força do Espírito Santo (Lc 1.15,35; 3.22; 4.1; 4.14; 4.17-20; 10.21; 11.13; 24.49). Lucas é, portanto, o Evangelho do crente que quer conhecer melhor o seu Senhor e ser cheio do Espírito Santo.
PARA REFLETIR
Sobre os ensinos do Evangelho de Lucas, responda:

A quem é atribuída a autoria do terceiro Evangelho?

A autoria é atribuída a Lucas, o médico amado.

Como devemos entender o termo “informado” usado por Lucas no capítulo 1 do seu Evangelho?

O vocábulo significa também “doutrinar”, “ensinar” e “convencer”.

Como Jesus é revelado no Evangelho de Lucas?

Ele é revelado como “Filho de Deus” e “Filho do Homem”.

As expressões “Filho do Homem” devem ser entendidas em que sentindo no terceiro Evangelho?

Devem ser entendidas como expressões que mostram o relacionamento de Jesus com a humanidade.

De acordo com a lição, como é considerado o terceiro Evangelho?

Ele é considerado a coroa dos Evangelhos Sinóticos.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
O Evangelho segundo Lucas

Ao longo da História da Igreja, algumas indagações acerca dos Evangelhos foram feitas por cristãos sinceros: (1) Como os Evangelhos surgiram? (2) Como obra literária, de que maneira devemos entender os Evangelhos? (3) O que os Evangelhos nos contam sobre Jesus?

Sabemos que pessoas, inspiradas pelo Espírito Santo, escreveram os quatro primeiros livros do Novo Testamento. Entretanto, de acordo com as perguntas acima, queremos saber como os autores dos Evangelhos obtiveram as informações sobre a vida e o ministério de Jesus; Por que os Evangelhos são tão parecidos e, ao mesmo tempo, tão diferentes?
Sem a pretensão de respondermos essas questões no presente espaço (é impossível tal empreendimento), podemos perceber que o Evangelho de Lucas, dentre os quatro, tem uma particular contribuição para compreendermos a formação dos Evangelhos que falam do nosso Senhor. Leia o seguinte texto:
“Tendo, pois, muito empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas que já estás informado” (Lc 1.1-4). Agora correlacione essa passagem com a de Atos 1.1,3:
“Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, [...] aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus”.
Podemos dizer que o evangelista Lucas é o autor sacro que dá as pistas da história das origens cristãs, pois as introduções do seu Evangelho e do Livro de Atos revelam que: (1) Lucas selecionou e pôs em ordem os fatos narrados no Evangelho; (2) Esses fatos foram transmitidos pelas testemunhas oculares de Cristo e pelos ministros, os apóstolos, da palavra que “transmitiam” verdades sobre Jesus; (3) Haviam outros escritos sobre Jesus, mas coube a Lucas organizar e relatar o dele.
Com isso, fica claro que o médico amado, doutor Lucas, é o autor do Evangelho considerado o mais histórico e cronológico dentre os quatro Evangelhos. Um tratado extraordinário sobre Jesus e a sua obra!

Lição 01 - O Evangelho Segundo Lucas - SUBSÍDIO

Postado por Alex Sandro                                                                                   VOLTAR


INTRODUÇÃO
Lucas, o médico amado, não foi um apóstolo nem tampouco foi uma testemunha ocular da vida de Jesus, todavia deixou uma das mais belas obras literárias já escritas sobre os feitos do Salvador e os primeiros anos da comunidade cristã.
A narrativa de Lucas descreve, com riqueza de detalhes, o ministério terreno de Jesus, como ele nasceu, cresceu, libertou os oprimidos, formou os seus discípulos, morreu pendurado em uma cruz e ressuscitou dos mortos.
O terceiro Evangelho possui uma forte ênfase carismática. Mais do que qualquer outro evangelista ou escrito do Novo Testamento, Lucas dá amplo destaque à pessoa do Espírito Santo durante o ministério público de Jesus até sua efusão sobre os cristãos primitivos. Nesse aspecto, a obra de Lucas deve ser entendida como um compêndio de dois volumes, onde o segundo volume, Atos dos Apóstolos, é entendido a partir do primeiro, o terceiro Evangelho, e vice-versa.
Um erro bastante comum cometido por vários teólogos, principalmente aqueles que não creem na atualidade dos dons espirituais, é tentar “paulinizar” os escritos de Lucas. Por não entenderem o pensamento lucano, não o vendo como teólogo como de fato ele era, mas apenas como um historiador, tentam interpretá-lo à luz dos escritos de Paulo. Evidentemente que toda Escritura é inspirada por Deus e que o princípio da analogia é uma das ferramentas básicas da boa exegese, todavia isso não nos dá o direito de transformar Lucas em mero coadjuvante da teologia paulina. Em outras palavras, Paulo deve ser usado para se compreender corretamente Lucas, mas também Lucas deve ser consultado para se quer entender, de fato, o que Paulo escreveu.
Esse entendimento se torna mais ainda relevante quando aplicamos essa metodologia em relação aos carismas do Espírito narrado no terceiro Evangelho, em Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas. Se Paulo foi um teólogo, possuindo independência para falar dos dons do Espírito, Lucas da mesma forma também o foi e seu pensamento é tão relevante quanto o de Paulo. Nesse aspecto Lucas não deve ser entendido apenas como um narrador de fatos históricos, mas como um teólogo que escreveu a história.
Este livro mostra facetas dessa abordagem metodológica na interpretação de Lucas, mas não segue o modelo adotado nos comentários de natureza puramente expositiva como são, por exemplo, as obras de Leon Morris, William Hendriksen, Fritz Rienecker, J.C. Ryle e outros. Isso tem uma razão de ser — o presente texto não é um comentário versículo por versículo do evangelho de Lucas, nem mesmo capítulo por capítulo. Antes, é uma abordagem temática dos principais fatos ocorridos durante o ministério público de Jesus, como por exemplo, seu nascimento, crescimento, morte e ressurreição. Tendo sido escrito como texto de apoio às Lições Bíblicas de Jovens e Adultos da Escola Dominical esse tipo de abordagem permite trazer um comentário mais exaustivo sobre cada tema, mas, sem dúvida, limita um estudo mais expositivo do texto bíblico. Isso explica, por exemplo, o porquê de determinados textos, mesmo sendo importantes dentro do contexto da teologia lucana, não terem sido abordados aqui.
Procurando fugir do tecnicismo das obras de natureza puramente exegética, até mesmo por seguir a estrutura das Lições Bíblicas a quem serve de apoio, o presente livro primou por ser mais de natureza devo- cional-teológica. Isso não significa que a exegese e os princípios bíblicos de interpretação foram relegados ao segundo plano. Não! Todavia procurou o presente texto dialogar com o leitor por saber que muitos deles, alunos da ED, não tiveram acesso ao intrincado mundo das enfadonhas regras gramaticais.
Que o Senhor abençoe a cada leitor deste livro.

O PROPÓSITO DE LUCAS
METODOLOGIA
Ao estudarmos uma obra literária, precisamos, dentre outras coisas, levar em conta a sua autoria e data, o tipo de gênero literário, o seu destinatário e o propósito para o qual ela foi escrita. Essa metodologia é importante não apenas para o estudo de textos bíblicos, mas também para qualquer obra da literária universal. A sua observância garantirá que o intérprete não chegue a conclusões equivocadas e diferentes da- quelas que tencionou o autor.
O estudante da Bíblia deve, portanto, ter isso em mente quando estuda o terceiro Evangelho. Roger Stronstad, teólogo de tradição pentecostal canadense, demonstrou, por exemplo, que uma metodologia errada na análise do Evangelho de Lucas tem levado vários estudiosos a chegarem a conclusões teológicas igualmente erradas.1 Esses equívocos têm como subprodutos uma fé e prática cristã diferente daquela desenhada nas obras de Lucas.
Ao analisar, por exemplo, os contrastes existentes no desenvolvimento histórico da doutrina do Espírito Santo nas diferentes tradições cristãs, Stronstad observa que “essa divisão não é simplesmente teológica. No fundo, o assunto tem diferenças hermenêuticas ou metodológicas fundamentais. Essas diferenças metodológicas surgem dos diversos gêneros literários e são da mesma extensão que estes. Por exemplo, há que deduzir a teologia do Espírito Santo de Lucas de uma “história” de dois volumes sobre a fundação e o crescimento do cristianismo, dos quais se classifica o volume um como um Evangelho e o volume dois como Atos. Por contraste, temos que derivar a teologia do Espírito Santo de Paulo de suas cartas, as quais dirigiu às igrejas geograficamente separadas em diferentes ocasiões de suas jornadas missionárias. Estas cartas são circunstanciais, quer dizer, tratam de alguma circunstância particular: por exemplo notícias de controvérsias (Gálatas), respostas às perguntas específicas (1 Coríntios) ou planos para uma visita vindoura (Romanos). Assim que, à medida que Lucas narra o papel do Espírito Santo na história da igreja primitiva, Paulo ensina a seus leitores acerca da pessoa e ministério do Espírito”.

AUTORIA
Como veremos mais adiante, a tradição que atribui autoria lucana para o terceiro Evangelho é muito antiga. No texto bíblico, as referências ao “médico amado” são Colossenses 4.14; 2 Timóteo 4.11 e Filemon 24. Todavia assim como outros escritos do Novo Testamento, o terceiro Evangelho também não traz grafado o nome de seu autor.

EVIDÊNCIAS INTERNAS DA AUTORIA LUCANA
Diferentemente de outros livros neotestamentários que são anônimos, o terceiro Evangelho deixou pistas que permitiram à igreja atribuir a Lucas, o médico amado, a sua autoria. Alguns desses indícios internos listados pelos biblistas são:
1. Tanto o livro de Lucas como o livro de Atos são endereçados a uma pessoa identificada como Teófilo. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (Lc 1.3), “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus” (At 1.1-3).
2. Como vimos, o livro de Atos se refere a um outro livro que fora escrito anteriormente (At 1.1), que sem dúvida alguma trata-se do terceiro Evangelho. Quem escreveu Atos dos Apóstolos, portanto, escreveu também o terceiro evangelho.
3. O estilo literário e as características estruturais de Lucas e Atos apontam na direção de um só autor;
4. Muitos temas comuns ao terceiro Evangelho e Atos não são encontrados em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Por exemplo, a ênfase na ação carismática do Espírito Santo sobre Jesus e seus seguidores (Lc 24.49; At 1.4-8). Devemos observar ainda, como destaca Walter Liefeld, dentro dessa perspectiva, que o autor de Lucas-Atos não foi uma testemunha ocular dos feitos de Jesus, mas um cristão da segunda geração que se propôs a documentar a tradição existente sobre Jesus e o andar dos primeiros cristãos. Na passagem de Atos 16.10-17, a referência à primeira pessoa do plural (nós) além de revelar que Lucas era um dos companheiros de Paulo na segunda viagem missionária mostra também que era ele quem documentava esses registros:
“E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali, para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade. No dia de sábado, saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos haver um lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. Depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai ali. E nos constrangeu a isso. E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (At 16.10-17).
Essas evidências internas, sem sombra de dúvidas, apontam a autoria lucana do terceiro Evangelho. A propósito, em 1882 o escritor W.K. Hobart em seu livro: A Linguagem Médica de Lucas demonstrou a existência de vários termos médicos usados no terceiro Evangelho, o que confirmaria a autoria lucana. Posteriormente a obra O Estilo Literário de Lucas, escrita por H. J. Cadbury tentou mostrar que não somente Lucas usou termos médicos em sua obra, mas que outros escritores, mesmo não sendo médicos, fizeram o mesmo. Mas como bem observou William Hendriksen, quando se faz um paralelo entre Lucas e os demais Evangelhos Sinóticos observa-se a peculiaridade do vocabulário médico empregado por Lucas. Hendriksen comparou, por exemplo, Lucas 4.38 com Mateus 8.14 e Marcos 1.30 (a natureza ou grau da febre da sogra de Pedro); Lucas 5.12 com Mateus 8.2 e Marcos 1.40 (a lepra); e Lucas 8.43 com Marcos 5.26 (a mulher e os médicos). Ainda de acordo com Hendriksen, pode-se acrescentar facilmente outros pequenos toques. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão direita que estava seca (6.6, cf. Mt 12.10; Mc 3.1); e entre os escritores sinóticos, somente Lucas menciona que foi a orelha direita do servo do sumo sacerdote a ser cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Compare também Lucas 5.18 com Mateus 9.2, 6 e Marcos 2.3, 5, 9; e çf. Lucas 18.25 com Mateus 19.24 e Marcos 10.25. Além do mais, conclui Hendrinksen, embora seja verdade que os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Médico compassivo da alma e do corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram homens de terna compaixão, em nenhuma parte é este traço mais abundantemente notório que no Terceiro Evangelho.

EVIDÊNCIAS EXTERNAS DA AUTORIA LUCANA
Além dessas evidências internas, há também diversas evidências externas, que fazem parte da tradição cristã, atestando a autoria lucana para o terceiro Evangelho. Uma delas, o cânon muratoriano, escrita em cerca de 180 d.C., confirma a autoria de Lucas: “o terceiro livro do Evangelho, segundo Lucas, que era médico, que após a ascensão de Cristo, quando Paulo o tinha levado com ele como companheiro de sua jornada, compôs em seu próprio nome, com base em relatório”. Em cerca de 135 d.C., antes portanto do Cânon muratoriano, Marcião, o herege, também atesta a autoria de Lucas para o terceiro Evangelho. Testemunho confirmado posteriormente por Irineu (Contra as Heresias, 3.14-1) e outros escritores posteriores.

DATA DE COMPOSIÇÃO DA OBRA
A data da composição do terceiro evangelho é melhor definida pelos biblistas quando se leva em conta alguns fatores. Por exemplo, se Lucas valeu-se do Evangelho de Marcos como uma de suas fontes, nesse caso é preciso situá-lo em data posterior ao escrito de Marcos que foi redigido alguns anos antes do ano 70 d.C. Segundo, se Lucas é o primeiro volume de uma obra em dois volumes (Lucas-Atos), como se acredita que é, fica bastante evidente que o terceiro Evangelho foi compilado antes dos Atos dos Apóstolos. Nesse caso será preciso primeiramente datar o livro de Atos. Os eruditos acreditam que, levando-se em conta uma análise detalhada do livro de Atos dos Apóstolos, a data para sua redação está entre 61 a 65 d.C. Em Terceiro lugar, a data para a redação de Lucas dependerá também de como se interpreta o sermão feito por Cristo sobre a destruição de Jerusalém (Lc 21.8-36). Nesse caso, argumentam os críticos, Lucas escreveu depois da destruição de Jerusalém no ano 70 visto ter feito referência aos fatos ocorridos nessa data. Esse argumento é fraco, visto que Cristo proferiu uma profecia sobre os eventos do fim e que tiveram início na destruição de Jerusalém. E o que os teólogos denominam de vaticinium ex eventu, isto é, uma profecia que é feita antes que o evento ocorra. Em quarto lugar, muitos críticos argumentam em favor de uma data mais tardia para Lucas, porque segundo eles, algumas situações mostradas nas obras de Lucas demonstrariam situações que ainda não existiam nos anos 60 e 70 d.C. Mas esse é um argumento que não se sustenta pelas mesmas razões já expostas anteriormente.6 Em resumo, Lucas redigiu sua obra entre os anos 60 e 70, sendo que alguns estudiosos opinam para a primeira parte dessa década enquanto outros pela segunda. Seja como for, isso em nada altera aquilo que Lucas escreveu.

GÊNERO LITERÁRIO
Compreender a que tipo de gênero literário pertence o terceiro Evangelho é crucial para uma correta compreensão do seu texto. Isso se torna mais relevante ainda quando se estuda o papel que o Espírito Santo ocupa na teologia lucana. Já há algum tempo, a perspectiva teológica que via as obras de Lucas apenas como biografia e história vem sendo abandonadas pelos biblistas. Em 1970 o conceituado teólogo I. Howard Marshall chamou a atenção para o fato de que Lucas não poderia ser visto mais como um simples historiador, mas como um teólogo que escreveu a história. Em outras palavras, Lucas não apenas documentou os fatos, mas escreveu suas obras tendo em mente um propósito teológico definido. Nesse aspecto, observa o escritor Luís Fernando Garcia-Viana, “Lucas é o teólogo da história da salvação: a história de Israel ou tempo da preparação; Jesus como centro do tempo (Lc 16.16); e o tempo da missão ou da igreja, que se inicia com a Ascensão e o Pentecostes”.
Quando se reduz as obras de Lucas apenas à sua dimensão histórica, forçosamente se é tentado a vê-las apenas como material de natureza narrativa ou descritiva e sem nenhum valor didático. Esse é um erro que precisamos evitar a todo custo. Por muitos anos esse era o entendimento que dominava os círculos teológicos graças às obras dos teólogos John Stott e Gordon D. Fee. Partindo de uma metodologia que atribui apenas valor narrativo e não didático à obra de Lucas, tanto Sott como Fee acabaram por mutilar o caráter claramente carismático do texto lucano. A esse respeito, Stott escreveu:
“Se deve buscar a revelação do propósito de Deus nas Escrituras nas partes didáticas, e jamais em sua porção histórica. Mais precisamente devemos buscá-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos e não nas porções puramente narrativas de Atos”.
Esse é um exemplo clássico de falácia exegética, pois anula uma máxima bíblica na qual se afirma que toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para o nosso ensino (2 Tm 3.16; Rm 15.4). Por outro lado, não leva em conta o caráter didático das narrativas veterotestamentárias usadas por Paulo quando instrui os primeiros cristãos (Rm 4.1-25;
1 Co 10.1-12; G1 3.6-14). A propósito, após ver sua argumentação ser contraditada por Roger Stronstad, o anglicano John Stott voltou atrás e fez emendas em sua tese:
“Não estou negando que narrativas históricas têm uma finalidade didática, pois é claro que Lucas era tanto um historiador e um teólogo; Estou afirmando que a finalidade didática de uma narrativa nem sempre é evidente em si mesma e por isso muitas vezes precisa de ajuda interpretativa de outro lugar nas Escrituras”.
Lucas, portanto, foi um teólogo que escreveu a história e ao assim proceder o fez com um fim didático. Primeiramente ele mostra no seu Evangelho a história da Salvação se revelando de uma forma especial e chegando ao seu clímax com Jesus, o Messias prometido. O Espírito do Senhor, que agiu sobre os antigos profetas e que seria um sinal distintivo do Messias (Is 61.1; Lc 4.18), estava sobre Jesus capacitando-o a realizar as obras de Deus. No segundo volume da sua obra, Atos dos Apóstolos, ele demonstra que essa história da Salvação não sofreu solução de continuidade, pois o mesmo Jesus, na pessoa do Espírito Santo, continuou presente em seus seguidores. O Messias cumpriu as profecias e derramou o Espírito Santo sobre toda a carne (Jl 2.28; At 2.33; 5.32). Não há dúvidas, portanto, que a teologia lucana mostra de forma inequívoca que as mesmas experiências dos cristãos primitivos serviriam de parâmetro para todos os crentes na história da igreja.

PROPÓSITO
A FÉ CRISTÃ NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO
E inegável que Lucas, como um teólogo, demonstrou um grande interesse pelos fatos históricos quando redigiu sua obra. O prólogo, escrito a Teófilo, que se acredita ser um gentio de alta posição social, atesta isso. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado” (Lc 1.1-4).
O que pretendia, portanto, o autor do terceiro Evangelho ao documentar sua obra? Lucas procura narrar a história; mas não a história como se entende hoje em seu sentido secular ou positivo, que se prende apenas à narrativa das ações humanas.14 Ele narra a história da Salvação. A história de Lucas é a história da ação de Deus entre os homens e como ele demonstra a sua soberania entre eles! Dentro desse contexto o seu interesse era mostrar os fatos sobre os quais o evangelho estava fundamentado; estabelecer o vínculo entre o cristianismo e o judaísmo, revelando dessa forma que a fé cristã possuía raízes judaicas; deixar claro que o cristianismo não veio para competir com o império romano, mostrando assim que ele não era uma ameaça política à autoridade do império.

UMA TEOLOGIA CARISMÁTICA
Como um escritor inspirado e um teólogo cristão, Lucas mostra que o tempo do cumprimento das promessas de Deus, preditas nos antigos profetas, havia chegado. Fica claro para ele que o advento do cristianismo foi precedido pela renovação do Espírito profético. O último profeta, Malaquias, havia silenciado cerca de quatrocentos anos antes. Esse hiato entre os dois testamentos é conhecido como período interbíblico. Agora esse silêncio é rompido, primeiramente pelo anúncio feito a Zacarias, pai de João Batista (Lc 1.13) e posteriormente a Maria, a mãe de Jesus (Lc 1.28). É, contudo, no ministério de João Batista, que Lucas mostra a restauração da antiga profecia bíblica: “E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3.1-2).
Essa restauração da antiga profecia bíblica, como veremos em capítulos posteriores, é importante no contexto da teologia carismática de Lucas. Já foi dito que Lucas escreveu uma obra em dois volumes e esse é um fato importante porque essa homogeneidade nos ajuda compreender a ação do Espírito Santo na teologia Lucas-Atos. No Evangelho, Lucas mostra o Espírito atuando sobre o Messias e capacitando-o para realizar as obras de Deus como havia sido prometido nas profecias (Lc 4.18; Is 61.1). Por outro lado, no livro de Atos está o cumprimento da promessa do Messias de derramar esse mesmo Espírito sobre os seus seguidores (Lc 11.13; 24.49; At 1.8). Em outras palavras, o mesmo revestimento de poder que estava sobre Jesus Cristo e que o capacitou a curar os enfermos, ressuscitar os mortos e expulsar os demônios seria também dado a seus seguidores quando ele fosse glorificado. “De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.33); “nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (At 5.32).

A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
A história da Salvação no terceiro Evangelho é revelada em seu aspecto particular e universal. Sem dúvida a ênfase maior está na universalidade da Salvação. Jesus veio para os judeus, mas não somente para estes, ele veio também para os gentios. A Salvação é para todos! Esse princípio teológico de Lucas fica em evidência quando se observa o lugar que os excluídos ocupam nos seus registros. No anúncio do nascimento de Jesus feito pelos anjos aos camponeses foi dito: “Vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2.10).
Todo o povo, e não apenas os judeus, era objeto da graça de Deus. E inegável a atenção que se dá aos pobres, excluídos e marginalizados no Evangelho de Lucas. O Espírito Santo estava sobre Jesus para “evangelizar os pobres” (Lc 4.18). É interessante observarmos que a palavra grega ptochoi, traduzida como pobres, significa alguém que possui alguma carência. E exatamente esses carentes que Jesus irá priorizar em seu ministério. Ele dará grande atenção aos publicanos, pecadores, mulheres e aos samaritanos que eram discriminados naquela cultura (Lc 5.32; 7.34-39;9.51-56; 10.3; 15.1; 17.16; 18.13; 19.10).
Essa Salvação predita pelos profetas, anunciada pelos anjos e declamada em forma poética pelo sacerdote Zacarias e Maria, mãe de Jesus, é também de natureza escatológica. A teologia lucana mostra João anunciado a chegada do Reino e Jesus estabelecendo-o durante o seu ministério. Todavia esse Reino inaugurado pela manifestação messiânica (Lc 4.43; 8.1; 9.2; 17.21) ainda não está revelado em toda a sua extensão. Já podemos, sim, viver a sua realidade no presente, mas a sua plenitude somente na sua parousial (At 1.6-11).
Essa é a nossa esperança!

José Gonçalves. Lucas, 
O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. 
Editora CPAD. pag. 11-21